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O que está por trás do seu desejo por comidas?

Não tem um dia da minha prática como coach de saúde e em uma mera conversa com alguma amiga que o assunto comida e como não conseguimos nos controlar perto dela apareça. Seja por causa da dieta, por causa da TPM, por causa de alguma emoção, entre vários outros motivos, em muitos momentos parece que não temos a menor chance frente a essa vontade desmedida pelas comidas “proibidas”, não muito saudáveis.

Nossos desejos por determinadas comidas não são aleatórios, não são um sinal de fraqueza de caráter, nem falta de força de vontade. Eles são respostas diretas das necessidades do nosso organismo criadas pelo equilíbrio sutil de nossos mecanismos tanto fisiológicos, quanto de prazer, emoção e memória.

Fomos programadas para buscar comidas, as mais calóricas, e esse é um mecanismo de sobrevivência, e as comidas que normalmente mais desejamos, como doces, pães e massas, frituras e comidas ricas em gorduras, são as que mais nos fornecem rápido essa energia que o corpo busca.

Além disso, por esse tipo de alimento (ultraprocessados e junk food) agir diretamente no centro de prazer do cérebro, isso cria um sistema de dependência, como o que acontece com as drogas, pois ficamos incessantemente tentando reproduzir a sensação de bem-estar usando a mesma comida.

Vivemos nos dias de hoje em uma cultura que nos estimula a buscar o prazer pela comida constantemente, com um bombardeio de mensagens publicitárias em todos os lugares que estamos, e com a disponibilidade de comida a todo momento do dia e da noite. Não é a toa que muitos de nós perdemos
a guerra para o desejo.

Se pararmos para pensar que lutamos contra as poderosas forças do instinto de sobrevivência e da busca do prazer, percebemos que a força de vontade e a velha máxima de “fechar a boca” pouco podem fazer por nós para evitar que sejamos vítimas desse descontrole. Ainda mais quando certas comidas nos ajudam a acalmar (mesmo que por um período curto de tempo) o estresse, a ansiedade, a depressão, a raiva, a tristeza.

Quando seu corpo deseja alguma comida, ele está simplesmente tentando te dizer algo. Por isso, ao invés de combater o desejo ou de se entregar a ele imediatamente, reflita um pouco sobre o que está por trás dessa mensagem em forma de desejo que seu corpo está tentando te passar.

A expert em Mindful Eating (ou Alimentação Consciente), Jan Chozen Bays, diz que temos oito fomes:

• Fome do Estômago: essa é a fome natural, o corpo precisa de energia, manda sinais para o estômago, que nos causam a impressão “barriga vazia”, e nos faz procurar alimento. Ele também quem vai nos indicar quando estamos satisfeitas com a quantidade, como também se consumimos algo a mais ou que não nos cai bem. Quando temos esse tipo de fome, qualquer alimento é capaz de saciá-la, e em pouco minutos já começamos a ter uma sensação de saciedade..

• Fome Celular: vem da necessidade de uma determinado nutriente, como carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas ou minerais, normalmente de uma combinação deles. Pode ser por uma carência momentânea ou crônica. Inclusive de água, já que o corpo pode enviar um sinal de fome como forma de conseguir líquidos. O livro “Breaking the Food Seduction”, de Neal Barnard, fala sobre a base fisiológica na criação de alguns hábitos alimentares.

• Fomes Sensorial – Olho, Ouvido, Nariz e Boca: essas quatro fomes são criadas a partir de nossa experiência sensorial. É aquela fome que surge porque apareceu o colega de trabalho com um pacote de biscoitos, o som das pessoas mastigando pipoca no cinema, com o cheiro de batata frita no ar, do prazer desperto por texturas, temperaturas e sabores na língua. É aquele desejo por algo crocante e salgadinho, ou doce e cremoso, e que só acalmamos quando conseguimos criar essas sensações, normalmente associadas a certas comidas específicas.

• Fome da Mente: é a governada pelas informações que vamos acumulando sobre o que, como e porquê se alimentar. Vem a partir de regras que aprendemos e criamos, e é uma grande parte do que constitui fazer uma dieta restritiva. Como “tenho que comer seis vezes por dia”, “tenho que comer mais proteínas e menos carboidratos”, “tenho que cortar o açúcar”, e por aí vai. A questão é que nossa mente muda de ideia o tempo todo, desperta nossa autocrítica, fica julgando nossas escolhas e, ainda por cima, as informações sobre nutrição e saúde mudam cada vez que se faz uma nova pesquisa científica, e isso nos deixa confusas e essa fome fora de controle.

• Fome Emocional: é a fome criada por nossos estados emocionais. Solidão, tristeza, frustração, raiva, tédio, restrição de prazer, e até alegria. Alimento está conectado aos nossos estados emocionais desde que nascemos, uma vez que é um mecanismo de sobrevivência o vínculo emocional da amamentação, como forma de criar o comportamento de mamar no bebê e a vontade de dar de mamar na mãe. É nessa fome que moram “vou comer o bolo de chocolate porque eu mereço”, “tenho direito a um dia de esbórnia depois de me privar com a dieta a semana toda”, “vou beber todas porque não aguento meu trabalho”, e tantas outras justificativas para nos entregarmos a tentativa em vão de preencher nossa necessidade de plenitude usando certas comidas de conforto. Essa é aquela que vem com o gosto amargo da culpa sempre atrelada.

Podemos usar esses tipos de fomes como referência, ou podemos reconhecer outras em nós, o importante aqui é essa prática de auto-observação, a partir dos seguintes questionamentos:

• Qual dessas fomes é a mais comum em mim? Há algumas mais frequentes ou mais fortes que outras?

• Quais os gatilhos que disparam essas fomes? Quais são meus padrões de alimentação e comportamento que podem criar algumas dessas fomes?

• Qual a atitude que tomo quando sinto fome? Eu consigo escolher me observar antes de automaticamente saciar o desejo por comida, percebendo quais as fomes por trás dele?

• Quais escolhas posso fazer quando tomo consciência do desejo por determinada comida? Posso escolher um alimento mais nutritivo para saciá-la? De que forma posso saciar a fome fisiológica (Estômago e Celular) e as Sensoriais, Mental e Emocional ao mesmo tempo?

• Enquanto estou comendo, que sensações e sentimentos vem à superfície? De que forma lido com cada uma delas? E depois que eu comi? O que meu corpo e minha mente me dizem algumas horas depois de comer sobre a última coisa que comi?

Parece um exercício extenuante e que dá muito trabalho, mas não é. Acredite em mim, em menos de 1 minuto somos capazes de sentir as respostas para cada uma dessas perguntas.

O principal nessa história é você simplesmente voltar-se um pouquinho para dentro de si mesma, onde habitam as respostas que vão saciar seu desejo, por comidas, por saúde, e por contentamento.